Todos os seres dentro deste universo estão
sujeitos a influência das modalidades ou qualidades da natureza material,
conhecidas como “gunas”. Literalmente
a palavra guna significa “corda”. Há
três gunas: bondade (sattva), paixão (rajas) e ignorância (tamas)
– que prende a jiva à natureza
material como três cordas resistentes. Por isso, o mundo material de maya (ilusão) é às vezes chamado tri-guna-mayi.
Assim como através das cores primárias
surgem todas as demais cores, da mesma forma, tudo no mundo material surge da
interação dos modos da natureza. Os gunas
são os elementos primordiais que, combinados em diferentes proporções,
constituem todos os objetos do mundo.
“Ó pessoa virtuosa, o modo da
bondade, sendo mais puro do que os outros, ilumina, livrando a pessoa de todas
as reações pecaminosas. Aqueles que estão situados neste modo condicionam-se a
uma sensação de felicidade e conhecimento.” (Bhagavad-gita 14.6)
Os exemplos
de pessoas influenciadas pelo modo da bondade são o filósofo, o médico, o
cientista e o poeta. Ao cultivar conhecimento acerca do mundo material, eles
tornam sua vida agradável; atado pela corda da bondade mundana a essa sensação
prazerosa, eles não buscam a elevação espiritual. Enquanto estiverem
identificados com um estado de avançada felicidade material e trabalharem com o
simples propósito de melhorar as condições materiais, ninguém conseguirá obter
a liberação (embora possa continuar conseguindo corpos no modo da bondade).
Por maior que
seja sua opulência material, em algum momento da vida defronta-se com as quatro
inevitáveis espécies de misérias, a saber: nascimento, velhice, doença e morte.
Esta modalidade da bondade é
supervisada pelo Senhor Visnu, Que sustenta os universos materiais.
“O modo da paixão nasce de desejos e anseios
ilimitados, ó filho de Kunti, e por causa disso a entidade viva encarnada está
presa às ações fruitivas materiais.” (Bhagavad-gita 14.7)
A modalidade da paixão é caracterizado
pela atração sexual e busca incessante do desfrute. A alma condicionada anseia
por sexo, e ao concretizar seus desejos, cria um forte nó no apego à vida
material. Assim se desenvolve o anseio de obter desfrute material sem limite,
cobiça e apego excessivo aos frutos da ação, desejos incontroláveis, etc.
Pouco a pouco, seus desejos grosseiros
transformam-se em aspirações mais sutis como conseguir honra na sociedade,
desfrute familiar, dinheiro e assim por diante. Para adquirir e manter essas
coisas, a pessoa tem que trabalhar arduamente, embora nunca fique satisfeita
com a posição adquirida. Segundo a
análise védica, as conquistas das grandes civilizações materialistas decorrem
de raja-guna. A modalidade da paixão
está sob o controle do Senhor Brahma, o criador do universo material.
“Ó filho de Bharata, fique sabendo que no modo da
escuridão, nascido da ignorância, todas as entidades vivas encarnadas ficam
iludidas. Os resultados deste modo são a loucura, a indolência e o sono, que
atam a alma condicionada.” (Bhagavad-gita 14.8)
O modo da ignorância deixa a jiva condicionada à preguiça, ao sono
excessivo e, em geral, ao desânimo e à dependência de tóxicos. É considerado o
modo da escuridão porque cobre o conhecimento e conduz à loucura.
A modalidade da ignorância é justamente o
oposto a modalidade da bondade. Na modalidade da bondade, o cultivo de
conhecimento pode progredir até a compreensão da realidade superior, em que é
possível como elas são, discriminar entre o real e o falso, o bom e o mal; mas
na modalidade da ignorância a tendência é a se iludir cada vez mais,
progredindo na degradação e a própria destruição. O Senhor Siva supervisa o
modo material da ignorância, e assim se encarrega da aniquilação do universo.
Embora a entidade vivente (jiva) seja transcendental à natureza
material, ao estar coberta pela ilusão, começa a atuar sob o feitiço destas
três modalidades. A jiva obtém um
corpo de acordo com as gunas em que
ela agiu no passado, e cada corpo, por sua vez, induz a agir de acordo com o
seu guna predominante. Assim como um
títere, a jiva parece dançar, mas, na
verdade, as três cordas, tri-guna-mayi,
movimentam-na.
A qualquer dado instante, as ações da jiva são influenciadas, não por apenas
um deles, e sim, por uma combinação dos modos. Em uma determinada ocasião, talvez
a paixão predomine sobre a ignorância; noutra, a bondade sobre a paixão; ou, em
outra, a ignorância sobre a paixão; e assim por diante.
Às vezes uma modalidade se sobressai,
vencendo as outras duas, sempre existe uma competição pela supremacia entre elas,
por isso para avançar na vida espiritual é preciso transcender estas
modalidades materiais e assim ficar livre de suas ataduras. A predominância de
determinada modalidade se manifesta no comportamento de cada ser, em suas
atividades. Nas escrituras tudo é explicado em termos destas qualidades
materiais – incluindo as categorias de fé, a determinação, os tipos de alimento
ou a espécie de caridade realizada.
Uma diferença importante a destacar, entre a Alma
Suprema, Bhagava Sri Krishna, e a
alma infinitesimal, a jiva, é que Ele
nunca se deixa influenciar pelas gunas.
Em todos os momentos, Ele é o Senhor delas, ao passo que a jiva cai sob sua influência.
Embora existam estas três modalidades muito firmemente
estabelecidas, si se é determinada, a pessoa pode elevar-se ao modo da bondade,
e logo transcendendo ela, pode situar-se na bondade pura, conhecida como o
estado vasudeva, um estado no que se
pode entender a ciência de Deus.
Seguindo os preceitos védicos, a jiva pode, aos poucos, transcender os três modos materiais e
alcançar sua pura consciência transcendental. Daí, no Bhagavad-gita, Krishna
exorta Arjuna a “elevar-se acima
destes modos”, voltando-se para o Supremo. O transcendentalista é aquele que se
eleva acima das modalidades.
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