quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Guru

Krishna e o Guru

Se existe algum nome que possa ser dado a Deus é Krishna. Na realidade, Deus não tem um nome em particular. Dizer que Ele não tem nome, significa dizer que ninguém sabe quantos nomes Ele tem. Já que Deus é ilimitado, absoluto, Seus nomes também devem ser. Alá, Buda, Jeová, Rama, todos são nomes de Deus.


Deus tem muitas relações com Seus numerosos devotos, e de acordo com elas, recebe diferentes nomes. Já que Ele tem inumeráveis relações com eles, também tem inumeráveis nomes. Não podemos limitar somente a um nome. Poderemos entender Seus nomes na medida do desenvolvimento de nossa compreensão espiritual.

Podemos compreender que existem nomes primários e nomes secundários de Deus, de acordo a Suas diversas funções. Por exemplo, os nomes secundários fazem alusão a Suas atividades externas tais como criar e manter o Universo, e Seus nomes primários fazem referencia a Seu aspecto pessoal e íntimo.

O nome Krishna é considerado um nome primário por excelência de Deus, já que significa o “Supremamente atrativo”. Devido a Suas ilimitadas qualidades transcendentais Deus atrai a todos, esta é a definição mais essencial de Deus. Srila Prabhupada explica que somente se Deus é atrativo, Ele pode ser chamado Deus. Todas as demais definições de Deus, como por exemplo, “todo poderoso” estão contidas no Seu aspecto “todo atrativo”.


Srila Sridhara Maharaj também explica: “Em todas as partes a atração é o elemento mais essencial. Todo o resto pode ser eliminado.” Srila Atulananda Acharya, agrega ao comentar que: O único que te interessa é o que te atrai, o que não te atrai não te interessa, e Krishna é o Supremo Atrativo. Se encontras beleza na montanha, essa beleza é de Krishna. É Seu reflexo. Tu vês muitos brilhos e muitas belezas, mas sua origem é uma. Si te conectas com esse ‘um’ podes considerar-te muito afortunado”.

Assim como George Harrison escreve na introdução ao livro de Krishna: “Todo mundo está buscando Krishna. Alguns não se dão conta disso, mas estão fazendo. Krishna é Deus, a Origem de tudo o que existe, a causa de tudo o que é, era e será”.

“All you need is love (Krishna) Hari bol”.

“Tudo que você precisa é amor (Krishna), Hari bol”


O representante genuíno da Suprema Personalidade de Deus é o Guru autêntico. A sílaba “gu” significa escuridão da ignorância; e a sílaba “ru” significa aquilo que impede. Ou seja, o guru é assim nomeado porque ele acaba com a escuridão da ignorância dos demais.

Basicamente existem duas classes de mestres espirituais: o mestre espiritual instrutor ou siksa-guru e o mestre espiritual iniciador ou diksa-guru. O siksa-guru aparece como um devoto de Deus, que dissipa todas as dúvidas, ele instrui sobre como praticar bhakti-yoga e se preocupa com o bem-estar de todos.

O diksa-guru inicia o aspirante ao serviço devocional nos mantras quando é requisitado por este que foi cativado pela maneira de apresentar o seviço à Krishna. Tanto o siksa-guru como o diksa-guru são considerados de igual importância por alguém que quer avançar espiritualmente. Geralmente o siksa-guru depois se torna o diksa-guru. O discípulo pode ter muitos mestres espirituais instrutores, mas somente um mestre espiritual iniciador.

O mestre espiritual é o verdadeiro bem-querente, já que ele trabalha pelo real benefício. Ele planta a semente da devoção em nosso coração e logo a borrifa com a água dos divinos sons do nome de Krishna e do conhecimento transcendental.

A relação entre Guru e discípulo explicado no Bhagavad-Gita

Quando a pessoa chega a conclusão de que tudo a seu redor é efêmero e superficial, sentirá necessidade de se aproximar de um Mestre Espiritual ou Guru com o propósito de querer saber o que é o melhor para ela. Com esta pergunta deve se aproximar do Mestre Espiritual.

Srila Sridhara Maharaj explicou que as pessoas se encontram no meio de forças diversas que arrastam e atraem em direções diferentes, assim, uma guia apropriada, é o mais importante. Se aceitarem instruções de todas as partes, serão mal dirigidas. Portanto, é preciso ser muito cuidadoso para achar a direção correta.

Essa direção deu Krishna no Bhagavad-gita (4.34):

tad viddhi pranipatena

pariprasnena sevaya

upadeksyanti te jñanam

jñaninas tattva-darsinah

“Para compreender o conhecimento transcendental, a pessoa deve aproximar-se de uma alma auto-realizada, aceitá-lo como seu Mestre Espiritual, e tomar iniciação dele. Inquirir submissamente e render-lhe serviço. As almas auto-realizadas podem transmitir conhecimento porque elas são videntes da Verdade”.

Este verso mostra um modelo para poder medir a verdade neste plano viciado e vulnerável. Para compreender isto, recomendam-se três qualificações:

Pranipat: significa que é necessário se render a este conhecimento porque não é uma classe ordinária de conhecimento que pode ser manipulado ou convertido num objeto. A rendição ajuda a ser receptivo e assim poder ser transformado pelo conhecimento.

Pariprasna: significa perguntar honesta e sinceramente. Inquirir não para discutir ou argumentar, todos os esforços devem estar concentrados numa linha positiva para compreender a Verdade sem espírito de desafio. Deve-se tentar entender a Verdade com toda atenção, porque vem de um plano de realidade mais elevado que da experiência pessoal.

Portanto, o discípulo não deve seguir seu guru às cegas. No Bhagavad-gita, Arjuna faz uma série de perguntas profundas, as quais Sri Krishna responde com raciocínio filosófico e com citações das escrituras e dos mestres antecessores.

Sevaya: significa serviço, isto é o mais importante.

Muitas vezes os homens tentam aproveitar este conhecimento, como um meio de explorar e extrair alguma energia dele, mais isto não ajudará realmente. O correto é colocar todo o empenho para servir a esse plano transcendental. Quando tal devoto submisso e de mentalidade serviçal faz perguntas sobre a vida espiritual, o mestre espiritual lhe revela as verdades que ele mesmo tem realizado pessoalmente. Desta maneira a relação com o Mestre Espiritual, e também com seus representantes, se torna muito amorosa e real.


Qualificações do mestre espiritual e do discípulo

Para os novos estudantes deste campo, convém examinar quais são, na concepção védica as qualificações do preceptor ou guru e do discípulo ou estudante, sisya. Em vista da grande importância e responsabilidade dada à iniciação, guru e discípulo, devem ser aptos ou qualificados para este papel, e assim poderem se relacionar de forma harmônica. A relação entre guru e sisya é uma verdade eterna cuja percepção só é acessível para quem se aproxima sinceramente de um guru fidedigno.

Como deve transmitir com perfeição as verdades do conhecimento védico, o guru desempenha um papel crucial. Uma das qualificações principais do guru é que ele deve ser parte de uma corrente de mestres, chamada sucessão discipular (Guru-Parampara), que se origina do próprio Krishna, e que através do processo descendente, chega até os dias de hoje. O param-para consiste num método seguro de transmissão do conhecimento divino, já que seus membros são instrumentos transparentes da vontade de Deus, e, portanto Seus fieis representantes.

Para iniciar discípulos o mestre espiritual deve ser membro desta sucessão discipular, ou seja, o próprio guru deve também ser um discípulo de um mestre espiritual genuíno, pertencente a esta corrente de transmissão. Assim, o estudante relaciona-se não apenas com seu mestre espiritual, mas também com o mestre espiritual do seu mestre espiritual, e o mestre espiritual daquele mestre e assim por diante, em uma cadeia sucessiva de mestres.

Há também um sistema de precisão e equilíbrio chamado guru-sastra-sadhu. Isto significa que os ensinamentos do guru devem corresponder aos ensinamentos do sadhu (mestres espirituais anteriores na sucessão discipular), que por sua vez devem corresponder ao significado direto do sastra (a escritura).

Srila Rupa Goswami, um filósofo védico do século dezesseis e discípulo de Sri Krishna Caitanya, apresenta em seu Upadesamrta, uma lista dos seis sintomas de um guru: “Qualquer pessoa sóbria que pode tolerar o impulso de falar, as exigências da mente, as reações da ira e os impulsos da língua, do estômago e dos órgãos genitais está qualificada para fazer discípulos em toda parte do mundo”. O mestre espiritual deve ser um acarya, alguém que ensina pelo seu próprio exemplo.

Embora tenha brilho intelectual, o homem sem retidão de caráter pessoal, preso ao desfrute egoísta e ao auto-interesse, não pode ser mestre espiritual. Portanto um guru deve ser um swami, ou senhor dos sentidos, e não escravo de seus desejos. Ninguém deve caprichosamente assumir o título de guru, o candidato deve realmente demonstrar as qualidades pré-ditas.

Um estudante deve também ser qualificado, e seus requisitos básicos são expostos no Bhagavad-gita. O discípulo deve “perguntar ao guru submissamente e prestar-lhe serviço”, como foi comentado acima. (Bg. 4.34) Ter fé no guru é algo da maior importância, e isto qualifica a pessoa para ser iniciada.

É dever do discípulo dedicar sua vida ao serviço do mestre espiritual, render-se de corpo e alma como servo do guru e aceitar as instruções como a missão da sua vida. Portanto, não é nenhum exagero dizer que “escolher o guru é mais significativo que escolher a esposa”.

Os Vedas enfatizam a necessidade de tal compromisso completo. Afinal de contas, o guru age como o salvador do discípulo. Portanto, o discípulo tem uma dívida com seu guru, que pessoalmente tirou-o da ignorância condicionada e abençoou-o com a perfeição da eternidade, felicidade e conhecimento.

O discípulo pensa o seguinte: “Tenho tomado refúgio no guru e me iniciei com ele. Agora se minha conduta é defeituosa, logo as pessoas não só me criticaram, mas também encontraram faltas em meu mestre espiritual, minha deidade adorável, o caminho devocional, os mestres prévios, e até a religião mesma. Finalmente, criticarão a crença no próprio Deus e todas as doutrinas que conduzem a um objetivo transcendental e superior na vida”.

Assim como uma gota de tinta num lenço branco é claramente visível, o mau comportamento de uma pessoa que leva a vida espiritual ressalta e atrai as críticas de todos. Este é o grau de compromisso que o discípulo rendido sente em sua profunda consciência.

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