terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Práticas devocionais diárias: Sadhana Bhakti



Os ashrams são lugares em que se reúnem pessoas que realmente estão dedicadas à busca da Verdade de maneira incondicional. Elas seguem os princípios do dharma, ou deveres da humanidade, e ali praticam a atividade natural da alma, em comunhão amorosa com Deus e todas as criaturas viventes. 
  Na antiga Cultura Védica da Índia, antes de todos os jovens casarem passavam um tempo no ashram (templo) de seu Mestre Espiritual para aprender as coisas essenciais da vida. O trabalho desinteressado, o serviço, o controle dos sentidos, o estudo das Escrituras Sagradas, o canto de mantras e a execução de sacrifícios, tudo isso era parte da formação do estudante.
  Nos Yoga Monastério convivem devotos brahmacaris (homens) e brahmacarinis (mulheres), ambos estudantes celibatários, e grhasthas internos (chefes de família) que seguem estritamente os princípios do sadhana (prática espiritual regulada) e sob a orientação de um devoto maior, idealmente um sannyasi (monge renunciante).
As mulheres também participam do Yoga Monastério, especialmente nos ashrams conhecidos como visnu priya, locais de refúgio e treinamento espiritual, onde recebem mulheres desprotegidas da sociedade materialista, também sob a proteção de um devoto maior ou sannyasi. 
  Os devotos novos devem ser treinados neste Yoga Monastérios para assim desenvolverem uma firme base para se tornarem líderes espirituais no futuro, para benefício da sociedade em geral. 
Pessoas externas ao ashram também podem, e devem participar nos Yoga Monastérios, de acordo com a disponibilidade. Com este fim, organizam-se retiros, seminários, festivais espirituais etc, para todos que desejam viver uma experiência espiritual e assim fortalecer sua prática individual e acrescentá-la em sua rotina diária.
Sadhana-Bhakti

O Sadhana-Bhakti é formado pelos princípios da prática de bhakti-yoga na plataforma de vaidhi-bhakti, ou bhakti regulado, que logo se transforma em devoção espontânea ou raganuga-bhakti e finalmente em Prema ou Amor Puro por Sri Krishna. SADHAKA é aquela pessoa que pratica sadhana como um meio para atingir a devoção. Também pode ser entendido como o estudante da ciência espiritual que modela sua vida com práticas regulares e constantes para alcançar uma meta suprema.
Este caminho é trilhado na companhia dos sadhus ou aqueles que estão fixos nesse objetivo supremo e sob a direção de quem trabalhou essa perfeição, que é a Sat Guru ou o Mestre Espiritual e Guia Eterno. A vida e a alma do sadhaka é o Sadhana e o serviço ao Guru e aos Vaisnavas (devotos).
Um princípio básico do vaidhi-bhakti, por exemplo, é a necessidade de aceitar o abrigo de um Mestre Espiritual autêntico, ser iniciado por ele e servi-lo com fé e devoção. Qualquer pessoa que esteja seriamente buscando alcançar a verdadeira felicidade deve buscar um mestre espiritual autêntico e abrigar-se nele por intermédio da iniciação.
 Considera-se um mestre espiritual autêntico aquela grande personalidade que se abriga na Divindade Suprema, deixando de lado todas as considerações materiais, que tenha dominado completamente a influência dos agentes de deleite dos sentidos (língua, órgãos genitais, estômago, ira, mente e palavras) e que tenha compreendido a conclusão das escrituras deliberando e argumentando com firmeza e realização própria.  A aceitação de um mestre espiritual, então, é o ponto crucial para se avançar na vida espiritual.
Se o discípulo tem sempre a atitude fixa na satisfação do mestre autêntico então progredirá com muita facilidade no caminho espiritual. Isto está confirmado nos Vedas: “Tudo se revela muito facilmente para uma pessoa que tenha Fé inabalável tanto em Deus quanto no mestre espiritual.”
Além desses três princípios básicos (aceitar um mestre espiritual, ser iniciado por ele e servi-lo com fé) Srila Rupa Gosvami (grande mestre do Vaisnavismo) enumerou outras sessenta e quatro atividades, por meio das quais um devoto na plataforma inicial de Serviço Devocional, ou Vaidhi-sadhana-bhakti, pode ocupar todos seus sentidos, incluindo a mente, no serviço ao Senhor.
Entre estas sessenta e quatro atividades foram selecionadas cinco como as principais:
1. Associar-se com os sadhus (Sadhu-sanga)
2.  Cantar os Santos Nomes do Senhor (Nama-kirtana)
3. Escutar o Srimad-Bhagavatam (Bhagavata-sravana)
4. Morar num lugar sagrado (Mathura-vasa)
5. Adorar a Deidade com grande Fé (Arcana)
Praticar estes princípios assegura um rápido avanço no serviço amoroso que culmina em Prema Bhakti, ou Amor Puro por Sri Sri Radha e Krishna.
Sadhu-Sanga: Asociar-se com devotos
Destas cinco atividades principais do sadhana-bhakti, duas são as mais importantes: associação com sadhus (ou devotos) e cantar o Santo Nome. Destas duas, a associação com os devotos é a principal, porque da reunião com eles deriva todas as demais atividades devocionais, especialmente o canto de Hare Krishna. No caso da impossibilidade da relação com os devotos, então o canto do Santo Nome se torna a atividade principal no sadhana-bhakti, e se o cantar é sincero e intenso naturalmente vai invocar e trazer a presença dos devotos rapidamente para perto.
Sadhu-sanga significa seguir os sadhus para ouvir atentamente deles Hari-katha (tópicos relacionados a Krishna), aprender com suas atividades, seguir suas instruções e oferecer-lhes serviço. 

Assim declaram as escrituras: “A causa raiz do Serviço Devocional ao Senhor Krishna é a associação com devotos avançados. Inclusive quando o amor adormecido por Krishna desperta na pessoa, a associação com os devotos continua sendo o mais essencial. Somente um instante (lava) de associação com os devotos, outorga toda perfeição e sucesso; esse é o veredicto de todas as Escrituras”.
Um lava equivale a 4/45 de segundo, o tempo que demora um piscar de olhos. Comenta-se que inclusive esta diminuta fração de tempo com devotos avançados nos conduz ao logro de todas as perfeições. A esse ponto chega a potência transcendental de sadhu-sanga.
Da associação com as grandes almas que estão ocupadas cem por cento no Serviço Devocional ao Senhor vem a maior benção espiritual, que consiste na atração positiva e progressiva por Sri Krishna.
Ao relacionar-se com devotos de Krishna, se cultiva a consciência de Krishna e, como conseqüência, aparece uma inclinação natural ao Serviço Amoroso ao Senhor Supremo. Este é o processo mais direto para aproximar-se do Senhor Krishna, por causa do apreço natural que provêm da associação com devotos.
Somente com esta relação a alma condicionada pode ter um gosto pelo Amor transcendental, e assim reavivar sua consciência de Deus. Se não existe apego pelos Sadhus, então o canal através do qual o próprio Sri Krishna derrama Sua misericórdia se verá perturbado e obstruído, e isto não será benéfico para nossa vida devocional.
  O Senhor declarou enfaticamente nos Vedas: “Adorar ou servir a Meu devoto é ainda mais importante que adorar a Mim mesmo”. E ainda: “Ó Arjuna, aqueles que declaram serem Meus devotos, realmente não o são. Eu considero unicamente como Meus devotos aos serventes de Meus devotos”.
Naturalmente, recomenda-se Sadhu-sanga, ou associação com sadhus, para que a associação materialista seja rejeitada, assim como a associação com pessoas de mentalidade mundana, pseudo-sadhus ou aqueles que estimulam o crescimento de más tendências. Este tipo de relação deve ser evitado.
  Em contraposição ao Sadhu-sanga, Asat-sanga é a associação com pessoas não interessadas na meta suprema da vida. A entidade viva é um ser social e ao abandonar a associação com aqueles que procuram valores espirituais, terá que se aproximar de pessoas materialistas. Com isto se estimulam as atividades não devocionais que arruínam qualquer crescimento alcançado. Portanto, deve-se ter muito cuidado para defender a trepadeira do bhakti cercando-a mediante o cumprimento dos princípios regulativos e com a associação dos devotos.
Quando encontrar os vaisnavas deve oferecer reverências sem reservas, já que ambos lembram que Visnu ou Krishna reside dentro de cada um deles. A pessoa sábia, quando oferece reverências está oferecendo seus respeitos à Alma Suprema que está dentro do coração de todos. Nesta bela e amorosa relação com os devotos nossa consciência de Krishna floresce.

Nama-Kirtan: O Canto do Santo Nome

Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
Nama significa “Nome” e Kirtana significa “cantar, glorificar ou descrever de forma plena e completa”. Portanto Nama Kirtan significa o “Canto dos Santos Nomes de Deus”, como um meio pleno e completo de glorificação e realização de Deus. 
Assim explicam os mestres antecessores: “O Santo Nome é tudo. Não existe um conhecimento tão puro como o que revela e encerra o Santo Nome. Não há voto mais poderoso que seu canto, nem meditação mais efetiva, nem fruto maior que o alcançado por meio do Nome. Não há maior renúncia nem paz maior para ser conquistada. Neste mundo não existe atividade mais piedosa que cantar o Nome. Não existe processo espiritual mais rápido que Seu canto. O Nome é a liberação mais elevada, a liberdade máxima, o destino supremo, o ponto em que nada mais precisa ser buscado. O Nome é a devoção mais almejada, a inclinação mais pura da alma. O Nome é o amor mais sublime, e a lembrança direta do Senhor. O Nome é a causa de todas as causas. É o Senhor Supremo, o mais adorável, a forma do Guru para levar-nos ao Senhor”. (Srila Bhaktivinoda Thakur)
Sri Caitanya Mahaprabhu recomendou que todos cantem o mantra Hare Krsna para limpar a poeira do coração. Sob a guia de um Mestre Espiritual, o discípulo é treinado para cantar o Maha-Mantra Hare Krishna com uma atitude de serviço, e desta forma rapidamente pode compreender a natureza transcendental dos Santos Nomes de Krishna.
Nenhuma ramificação ou aspecto do bhakti está completo sem o canto do Nome do Senhor, assim como nenhum membro do corpo pode funcionar sem a presença da alma. Nama-kirtana é a vida de todas as formas de serviço devocional.
O maha-mantra pode ser cantado tanto como “japa” ou como em “kirtana”. Quando um mantra ou hino se canta suave e lentamente, chama-se “japa”, e quando o mesmo mantra é cantado em voz alta, é chamado de “kirtana”. Assim, quando se pratica japa é para benefício próprio e quando se executa kirtana é para o benefício de todos os que escutam.
A importância de cantar o maha-mantra é ressaltada muitas vezes nas Escrituras: “Qualquer resultado que era obtido em Satya-yuga (era dourada) por meditar em Visnu, em Treta-yuga (era de prata) por realizar sacrifícios e em Dvapara-yuga (era de cobre) por servir os pés de lótus do Senhor, se pode obter em Kali-yuga (era atual de ferro), simplesmente por cantar o maha-mantra Hare Krishna.” (SB 12.3.52)

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