Importância
da roupa espiritual
A
Cultura Védica é a base de uma civilização antiga que mantêm tradições
em meio a onda tecnológica que invade o globo. Atualmente, as vestimentas
feitas de algodão, com modelos geométricos, ou linhas, usadas nas culturas
nativas tem sido substituída pelos tecidos sintéticos ditados pela indústria da
moda.
Srila Guru Maharaj explica que mudar o mundo
significa acabar com as pessoas que ganham as custas da ignorância dos outros.
Essa é a inspiração para esse artigo sobre a importância da roupa espiritual.
A roupa típica indiana é o dhoti e sári, uma faixa
comprida de tecido de algodão elaboradamente amarrada ao corpo. Para as
mulheres são 6m e para os homens 4m. Pode ser colorido, branco, laranja – e
como é característico na Cultura Védica, as cores tem significado e história.
Lembramos Mahatma Gandhi que colocou importância no
uso de roupas feitas artesanalmente, em contra das industriais confeccionadas
pela Inglaterra. Houve inclusive uma revolta chamada dos Cipaios em que os
soldados britânicos cortaram as mãos de idosos e idosas que teciam o algodão
para fazer as roupas. Para além dos sintomas de Kali Yuga que se manifestam
nesse ato de crueldade, pensemos no que está por trás... A roupa que usamos
dá lucro a alguém, do contrário não teriam feito guerras para expandir mercado
consumidor e garantir matéria prima.
A
indústria da moda é uma indústria de fato. Os catálogos de moda são preparados
com 4-5 anos de antecedência, ou seja, estão especulando e ditando quais serão
as próximas tendências. Esse mercado movimenta milhões de dólares durante o
ano. É sabido que faz uso de mão de obra escrava na China, Brasil e outros
países.
A camisa está começando a ficar pesada, não? Em
contrapartida, a roupa feita de algodão, usada milenarmente carrega a energia
da tradição, da harmonia com a Mãe Terra, da essência e simplicidade. Todos
usam o mesmo “número”, é fácil de
lavar, não ocupa espaço e não participa da indústria.
Em uma conferência, Guru Maharaj estava apresentando
o DVD Mudando o Mundo e afirmou que há mais de 35 anos boicota com toda força a
indústria da moda por usar roupa devocional. Essa forma de se vestir gera uma
identidade que é espiritual, que não é do corpo, pois o corpo veste a moda e a
alma se cobre com o intuito de agradar a Deus, todas suas ações são para a
satisfação de Krishna.
Na Consciência de Krishna buscamos nos aproximar do
modo da bondade para que a prática espiritual seja mais natural e fácil. Por
isso, usar roupas devocionais auxiliam no avanço espiritual. Importante
esclarecer que roupa espiritual é o dhoti para os homens e o sári ou gopi dress
para as mulheres. Os devotos devem sempre ter boa apresentação como falam
nossos mestres espirituais – roupas justas, sintéticas, que valorizam o corpo e
etc não combinam com um buscador da Verdade.
É compreensível que no quotidiano as pessoas precisem
usar outras roupas por conta do trabalho, escola, familiares. No entanto no
templo, especialmente nos festivais de domingo ou vaisnava (Janmastami,
Radhastami e etc) recomenda-se o uso da roupa espiritual a todos os devotos
internos ou externos. Gurudeva Atulananda disse que jamais viu a Deidade sem
roupa espiritual desde que foi viver no templo. O ashram é um local de refúgio,
para lembrar nossa conexão eterna com Krishna, onde temos a chance de ser
melhores do que poderíamos ser. Por tudo isso, é apropriado usar sári e dhoti
sempre que estiver no Vrinda, especialmente nos programas religiosos.
Tendo
em vista que nosso templo tem muitas atividades, sugerimos aos devotos o
seguinte critério que deve ser regido por tempo, lugar e circunstância: usar
roupas espirituais no programa da manhã e da noite, roupas para pregação ou
sankirtan durante o dia (sempre limpas, com boa apresentação, castas) e durante
os festivais de domingo e vaisnavas roupa devocional e tilak aplicado ao corpo.
Aos
domingos a família se encontra, o templo fica cheio e muitos amigos vem nos
visitar. Sabemos que não conseguimos atender a todos bem pois somos poucos.
Agora imaginem se todos os devotos estiverem com roupa devocional, tanto os
internos como os externos: seria algo lindo de ver, os visitantes teriam a
impressão de que todos moram no templo, fariam perguntas e veriam como é
possível servir a Krishna sendo monge ou tendo uma profissão e mantendo uma
casa.
E
deveria ser assim mesmo, que os corações de todos estivessem aos pés de
Gouranga Gandharvika Giridhari. Como diz Maharaj Mangala, ser um devoto
profissional e não um profissional que é devoto. Em outras palavras, dar espaço
ao que é eterno, nossa identidade espiritual como servos de Sri Guru Vaisnavas
Bhagavan, cumprindo também nossos deveres materiais como professor, advogado,
dentista e etc.
Para encerrar o artigo, Gurudeva
Atulananda revelou em Florianópolis um significado muito belo da cor laranja
que os brahmacarys (monges) usam. Ele explicava que quando as Gopis tinham
saudades de Krishna passavam um pó vermelho (semelhante ao que Krishna sempre
tem decorando seus pés) no peito, como se estivessem abraçando os pés de
Krishna. Nesses momentos as lágrimas escorriam e quando passavam pelo peito com
pó vermelho manchava o sári de cor clara - tornando-o laranja. Portanto, o laranja é a cor da saudade
de Krishna, da dedicação a Krishna, simboliza estar sempre pensando em Krishna.
Ter roupa espiritual nos faz lembrar de Hari, e nos
coloca como faróis favorecendo a que as pessoas perguntem sobre nossa forma de
viver, aceitando conselhos e desenvolvendo simpatia pelos devotos. Além disso,
também auxilia para nos encaminhar a modalidade da bondade. Também boicota a
indústria da moda por ser a vestimenta tradicional dos nativos de várias
culturas (igual que em outras culturas como as africanas ou andinas).
Incentivamos que experimentem se render a Krishna
também no momento de se vestir, cobrindo-se com algo que faz sentido, que
representa uma tradição, que tem história, que não prejudica aos demais e que,
o mais importante, agrada a Krishna!